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quarta-feira, 24 de maio de 2006

Simplesmente Rubem...

‘Á uns tempos atraz, o M. Castro escreveu uma cronica sobre os brincos da infancia. Falou sobre cirandinha, amarelinha, boca de forno, esconde-esconde, etc etc. Muito bem, e no final como sempre, ele pendurou no poste: Saudosista é a vovósinha.

Alem de ele ser saudosista, ele é tal qual voce, faz a gente voltar ao passado. Exemplo: a Casa e o Fogo, me fizeram voltar ao passado, muitos anos atraz. Tenho 86 anos, e hoje sou azilada. Lendo seus escritos, voltei ao passado. Aquela casa já foi minha nos idos de 29. Pau a pique e coberta de sapé. Quanta recordação que voce me trouxe. Quase fugiu da memoria, e voce veio fazer surgir á tôna, muito sofrimento e trabalho, mas tambem alegrias. Eu era quase uma menina. Tinha que buscar lenha no mato, fazer pão e acender aquele forno enorme para assa-lo. E na minha inexperiencia, quaze sempre saia ruim. As vezes nem crescia. Morava no Salto do Pinhal, onde havia usinas eletricas que forneciam luz para as fazendas visinhas. Lá havia uma cachoeira, era o rio Mogi-Guaçu. Aquele caudal de agua que caia sobre as pedras, levantando espumas, tal qual as nereidas do mar. Rugia dia e noite embalando o nosso sono, pois ficava em frente a janela do quarto. E nas noite enluaradas e o céu cheio de estrelas, sem a poluição atual, ela se tornava um caudal luminoso. Como era lindo! No tempo da piracema, os peixes pareciam ter asas, eles saltavam a cachoeira para a desova.
...
As vezes as letras saem meio tortas, porque não tenho mesa para escrever, escrevo em cima de um caderno de capa dura e no colo. Dina de Sousa.’

Dina, querida, você é uma menina! Se havia alguma coisa me fazendo sofrer, lendo sua carta eu sorri e ri – como estou rindo agora! – e fiquei curado. Você escreve muito gostoso. Já li sua carta muitas vezes e a li também para o grupo que amigos que se reúnem comigo às 3as. feiras para ler poesia. Sua carta é poesia. Aqueles peixes com asas, a revoada dos tangarás... Poesia e sabedoria! Que bom que você existe! Não tenho fotografia sua. Se tivesse faria o que você faz com as fotos do Moacyr Castro: daria um beijo nela! De qualquer forma, estou dando um beijo em você – mesmo de longe! Rubem (Correio Popular, Caderno C, 18/03/2001)



Recomendo...

Enviado por Ban às 10:39