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sexta-feira, 21 de outubro de 2005 Meu avô é uma figura, minha avó é uma história. “sabiá fugiu do terreiro, foi cantar lá no abacateiro...”
... e a menina chorava. Uma vez, pensando na dor que minha avó sentia e na mulher que ela nunca deixou de ser, me arrisquei a dizer que a mulher, depois que se torna mãe, perde o direito de morrer. Nair Lopes, minha avó, Mãe. Ela é simplesmente a mulher mais forte e fantástica que ousei conhecer em toda minha existência! De origem e criação humilde e simples, Mãe, como todos os netos têm costume de chama-la passou por tantas coisas que às vezes me recuso a acreditar. É, eu tenho uma história pra contar... mas temo que ficará pra uma próxima! Hj eu quero apenas dizer o quanto ela me ensina, o quanto me faz querer ser melhor a cada dia. Hj quero falar de quando eu ficava doente, triste, confusa, descia pra casa dela... agora estou há 810 km, não dá mais pra descer... Agora eu me encolho na cama e espero o choro chegar, mas o choro que vem é de saudade dela, é a falta do colo, das palavras que sempre ouvi, da comida caseira que ela me chamava na escada pra comer só pq sabia que eu amo e que ia me deixar feliz! Ou do dia em que, quando sentia que a indisposição tava difícil de agüentar, me chamava na minha janela, no meio da noite, apenas pra que mamãe não acordasse sobressaltada. Ou quando ficava comigo, eu chorando, até tarde da noite dando remédio pra meus cachorros mesmo não tendo tanto carinho assim pelos bichos. De quando eu preparava alguma coisa interessante na cozinha e levava pra ela elogiar e que ela nem chegava a comer pra poder tirar um tequinho pra cada um de seus filhos marmanjos provarem. De quando, em criança, ela fazia tranças nos cabelos de Paulinha pra não se embaraçarem e, por me ver querer também, amarrava com fitas meus poucos fios, só pra me ver alegre. De quando, mesmo com sua idade, fazia doces de leite pra gente comer. De quando emprestava suas panelas pra fazermos comidinha. Quero falar do quanto ela sofre hj guardando pra si... Que pegava meus livros pra ler mesmo... Do quanto me faz falta, do quanto me dói estar longe dela, do quanto quero ser igual a ela e não temer nada, nem ninguém. Ninguém pisa no calo de Mãe, ela não deixa... Nascida e criada no campo, com uma educação suficiente apenas pra lhe alfabetizar, sabe muito mais que muita gente que conheço. Sabia. Palavra que define D. Nair. Uma mulher forte com a sabedoria de quem vive muitos anos e que sabe reconhecer a relevância de cada fato, a importância de cada pessoa e circunstancia. É uma mulher que eu amo demais e que sofro de saudade... Não posso escrever mais... “... vem cá, sabiá!, vem cá!” Enviado por Ban
às 11:16
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